Lourival tinha finalmente conseguido o tempo suficiente e o local
apropriado para escrever o livro que trazia na cabeça. Alugara uma casinha
pequena, bem no interior do país, completamente isolada e rodeada de pinheiros
sussurrantes. Afastada da estrada principal e da aldeia, chegava-se lá por uma
azinhaga que mal permitia passagem ao velho Fiat.
Instalara-se, com a máquina de escrever, entre a mobília simpa-licamente
modesta, e dispusera-se a trabalhar com eficiência durante seis meses, pelo
menos. Alimentação tinha-a ali ao alcance, na aldeia. E um bom vinho, um pouco
fechado mas gostoso, numa tasca discretamente escura e convidativa onde, às
vezes, passava uma hora, ou até duas, de conversa fiada com os velhos pachorrentos.
Sem televisão, que ali não chegava. Na verdade, tudo pelo melhor.
Estava a terminar o segundo capítulo com relativa facilidade. Corria bem,
fluente, o enredo deslizava e o problema desenvolvia-se, lógico.
Meteu nova folha na máquina e ia
levar à boca o copo de tinto, quando ouviu bater na porta da frente que dava
mesmo para a casa de entrada onde costumava trabalhar e comer. Admirou-se. Bem,
talvez alguém da aldeia a pedir-lhe que escrevesse uma carta para França,
Alemanha ou coisa no género. Um pouco intrigado, foi abrir. E deu um passo
atrás, num pasmo imenso.