Perdi-me nesse dia. Não havia motivo algum para que tal acontecesse, mas o facto é que me perdi
mesmo. Deambulava sem rumo definido pela zona ribeirinha de Gaia, perfeitamente alheio a tudo,
quando dei por mim num dédalo de ruas estreitas. Sem saber muito bem o que fazer, resolvi entrar
na mais estreita delas, que, perante mim se derramavam, como se tratasse de mercúrio. Após andar
uma dezena de metros deparei com uma tabuleta onde estava escrito em letras góticas, Biblioteca.
Como desde sempre sou um apaixonado por tais lugares, algo muito próximo da veneração, decidi
seguir a direcção apontada. Pouco tive de andar para encontrar um estranho edifício que ostentava
no seu frontal a já referida inscrição.
Sem sequer pensar, dirigi-me para a imensa porta e bati fortemente na aldraba em forma de gárgula.
As pancadas soaram fortes e pesadas e, um pouco depois, uma minúscula criatura abriu a porta. Mal
o vi senti uma profunda sensação de mal-estar, mas como o estranho homem tinha um aspecto
repugnante, logo a isolei, por a atribuir a tão hedionda manifestação de arte genética. Recomposto,
perguntei-lhe se poderia entrar para visitar a Biblioteca. Mal tinha terminado de formular a
pergunta, ele deu uma portentosa gargalhada e mandou-me entrar.