.A mulher tirou as mãos de sob o avental e perguntou numa voz despida de qualquer inflexão amável:
......Que Deseja? - Depois, atentando melhor na figura miserável do interlocutor, acrescentou, asperamente elucidativa: - A entrada não é por aqui, é pela escada de serviço…….
......Mas o homem não despegava. Tinha uma teimosia humilde e inabalável:
......- Quero falar ao senhor….Ele é que me mandou chamar…
......- A si? - Havia uma ironia maldosa na interrogação. - Ah, ele manda chamar muita gente e depois não a recebe….Às vezes é uma romaria….
.....Calou-se um instante e fixou o homem.
.....Nos olhos dele havia uma doçura atenta e compassiva. Parecia-lhe que aquele homem, com o fato remendado, o cabelo rapado, as alpercatas rotas, a tiritar de frio, o ar clássico de vagabundo das estradas, estava com pena dela. Sentiu-se chocada e, ao mesmo tempo, intimidada. A sua vaidade agressiva de porteira de casa rica, diluíra-se. Pensou que era absurdo, que era o contrário do que devia ser, mas aquele homem estava com pena dela. Teve um sobressalto de vergonha e inquiriu quase humilde:
.....- É por causa de algum anúncio, não é?
.....- Sim, um anúncio a chamar por mim…Não o li, que não sei ler, nem escrever.